Uniso Ciência
Sustentabilidade + Arte
Abordagem STEAM é ponte entre as ciências duras e as Humanidades
A temática da sustentabilidade vem sendo constantemente abordada no projeto Uniso Ciência, em reportagens que, além de apresentar as ações institucionais da Universidade por um mundo mais verde, também discutem estudos científicos nas áreas da educação ambiental, da biodiversidade, da busca por processos produtivos mais sustentáveis e da biorremediação de recursos hídricos. Uma seleção dessas reportagens já publicadas pode ser encontrada na seção específica sobre sustentabilidade no site da Uniso: https://uniso.br/home/sustentabilidade.
Na edição 9 da Revista Uniso Ciência, em que esse texto é publicado, as imagens que você encontrará espalhadas entre as reportagens também fazem referência à preservação dos recursos naturais, especialmente os rios da região de Sorocaba, mas elas nasceram num contexto um pouco diferente dos laboratórios em que as pesquisas da Uniso normalmente são desenvolvidas. Acesse: https://uniso.br/home/revista-uniso-ciencia/edicao-atual.
As 15 ilustrações escolhidas para compor a Revista são de autoria de artistas de Sorocaba e região, membros do coletivo Dúzia de Artistas (@duziadeartistas), que existe desde 2017. As imagens são parte de um projeto específico, intitulado “Ir o Rio”, que surgiu no coletivo em 2018 e, a partir de 2019, foi integrado ao grupo de pesquisa Construção da Imagem, orientado pela professora mestra Mirella Mostoni, do curso de graduação em Artes Visuais da Uniso.
“A ideia principal do projeto consistiu em mapear, por meio do desenho de observação (aquele que acontece in loco), o percurso do Rio Sorocaba e seus afluentes, o que incluiu partes da Floresta Nacional de Ipanema e a represa de Itupararanga. Não procurávamos necessariamente por belas paisagens, mas por aspectos urbanos do rio, alguns em visível cuidado, outros abandonados, outros pouco frequentados, alguns já canalizados ou em fase de canalização. A metodologia de consenso foi a de registrar, em uma ou várias linguagens (geralmente gráficas e, numa ocasião, até por meio de gravações, constituindo o que se chama de paisagem sonora) trechos selecionados da bacia hidrográfica, os quais foram escolhidos com base no interesse visual pelos espaços urbanos”, conta Mostoni.
Ao unir essa abordagem das artes à discussão sobre preservação do meio ambiente, especialmente com a reprodução das obras em outros espaços não artísticos— como o projeto Uniso Ciência —, a iniciativa é um exemplo do que se chama de abordagem STEAM em pleno funcionamento.
De STEM para STEAM
O termo STEAM faz referência à inclusão da letra “A”, de Artes, ao acrônimo STEM — formado originalmente pelas iniciais das palavras inglesas para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, representando, portanto, as disciplinas tipicamente associadas a essas áreas do conhecimento. Trocando em miúdos, STEAM é a tendência de vincular a estética e a forma de pensar das Artes (ou das Humanidades como um todo) às chamadas hard sciences, as “ciências duras”, que são consideradas mais objetivas.
As implicações desses encontros inusitados são várias. O jeito STEAM de pensar está presente na concepção de alguns produtos de divulgação científica, quando se usa certos recursos estilísticos para facilitar o acesso do público a conceitos científicos complexos, de difícil compreensão. Além desta edição que você tem em mãos, você pode ver isso acontecendo em algumas reportagens já publicadas como parte do projeto Uniso Ciência no passado.
Se você não é da área da Física, por exemplo, é bastante provável que não saiba de pronto o sentido de rotação de um elétron e de um pósitron, mas você provavelmente consegue imaginar uma bailarina dançando em frente a um espelho: enquanto ela gira no sentido horário, a sua versão refletida gira no sentido anti-horário. Na edição piloto da revista Uniso Ciência – Junho 2018 (https://uniso.br/unisociencia/r1/LHC-materia-antimateria.pdf), foi exatamente essa a analogia utilizada para explicar a diferença na rotação de elétrons e pósitrons (partículas elementares que formam, respectivamente, a matéria e a antimatéria). A foto que acompanha a reportagem, de uma bailarina dançando em frente a um espelho sob um céu estrelado, foi produzida, na época, em colaboração com o curso de Dança da Universidade, gerando um diálogo — que teve o jornalismo e a fotografia como mediadores — entre a Física de Altas Energias e a Dança, áreas bastante diferentes que provavelmente nunca se encontrariam, não fosse pela abordagem STEAM.
E, se é possível usar a arte para explicar a ciência, ou para sensibilizar para a ciência, também é possível usar a ciência como ferramenta para fazer arte. Exemplo disso é uma coleção de 16 imagens produzidas pelo microscópio eletrônico de varredura (MEV) da Uniso, que foram incluídas entre as reportagens da edição 4 (dez./2019) da revista: https://uniso.br/unisociencia/r4/microscopio-eletronico-varredura-MEV.pdf.
Depois de devidamente colorizadas, cada uma delas se tornou uma peça de arte abstrata, sendo inclusive expostas em eventos internos na Universidade.
A ideia, ao promover esses encontros por meio da divulgação científica — que, vale a pena lembrar, é um espaço de educação informal —, é criar novas rotas de acesso para as discussões sobre CT&I (Ciência, Tecnologia e Inovação), de modo a envolver estratos e agentes da comunidade que provavelmente não estariam envolvidos num primeiro momento.
A abordagem STEAM na educação escolar
Além das aplicações na divulgação científica, a abordagem STEAM vem sendo empregada, também, na educação formal, geralmente em consonância às metodologias ativas de ensino e aprendizagem, como lembra o professor doutor Édison Trombeta, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uniso.
“No contexto escolar”, ele conta “a aplicação da abordagem STEAM parte sempre de um projeto ou problema. O professor delineia algo a ser resolvido ou construído e, nesse processo, as disciplinas das Humanidades e das Artes são intencionalmente integradas ao processo. Um caso clássico é a competição baseada na construção de pontes feitas de macarrão: os estudantes utilizam seus conhecimentos em matemática, engenharia, tecnologia e ciência para fazer com que as pontes feitas com um material cotidiano — o macarrão — fiquem em pé. As Artes são incorporadas a partir do senso de estética, da construção de pontes não apenas funcionais, mas também agradáveis ao olhar.”
Para o professor, a abordagem é interessante para o desenvolvimento de competências variadas, não somente aquelas específicas a cada disciplina.
“A interação entre os professores e os conteúdos das suas disciplinas é sempre um ponto positivo, fazendo diferença na formação dos estudantes”, conclui Trombeta.
Texto: GUILHERME PROFETA