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Tatiana, Naara e Queren

(Con)Versações sobre terapia ocupacional e feminismo

Mulheres por todo o mundo ainda sofrem inúmeros abusos que são descredibilizados pela sociedade e/ou, muitas vezes, não compreendidos como tal por elas mesmas

23 de Março de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: REPRODUÇÃO / INTERNET)

Tatiana Doval Amador
Naara Ramos Augusto
Queren Hapuque Oliveira Sousa

É notável o aumento da violência contra mulheres nos últimos anos, mesmo com a subnotificação dos dados durante o período da pandemia de Covid-19. O fato causa preocupação e escancara as desigualdades sociais de gênero e raça no Brasil. Este artigo traz algumas aproximações entre a terapia ocupacional e o feminismo, com objetivo de dialogar e disparar reflexões sobre possíveis tecnologias de intervenção.

A terapia ocupacional é campo de conhecimento e assistência que se debruça sobre a atividade humana no cotidiano de pessoas que sofrem processos de exclusão e desigualdades, causados pelo modo societário estruturado nos seguintes sistemas: patriarcado, colonialismo e capitalismo. Por isso, faz sentido a atuação de terapeutas ocupacionais junto a indivíduos, grupos e coletivos, em diferentes áreas do cuidado, como saúde, contextos escolares e sociais.

Pois bem, no mês de março, em que a discussão sobre o Dia Internacional da Mulher está fortemente presente nos meios de comunicação, movimentos sociais e demais segmentos da sociedade, faz-se necessário pautar a importância da validação da cultura do cuidado na vida cotidiana. Ao trazer a questão para esta conversa, imediatamente nos remetemos às diferentes manifestações da violência contra mulheres.

A violência contra mulheres é entendida como qualquer ação ou comportamento baseado no gênero que cause violação e/ou dano físico, sexual, psicológico, econômico, político, institucional, ocupacional, dentre outros, que atinjam mulheres cisgênero e transgênero. Embora seja qualquer ato que se enquadre nessas categorias, mulheres por todo o mundo ainda sofrem inúmeros abusos que são descredibilizados pela sociedade e/ou, muitas vezes, não compreendidos como tal por elas mesmas. Além disso, a violência é mais comumente cometida por um parceiro íntimo, com quem a vítima tem contato direto, frequente e que faz parte do seu cotidiano. É alguém que a vítima conhece bem e confia.

É diante deste cenário que nos aproximamos do feminismo como uma forma de compreender, analisar e operar a vida cotidiana de mulheres que (con)vivem com problemas estruturais da sociedade contemporânea, marcados pelas opressões, violações e a produção de desigualdades. Tais problemáticas, características de mecanismos coloniais, têm chamado a atenção de terapeutas ocupacionais pelos sofrimentos causados à população que atende. Trazer o feminismo para dentro da terapia ocupacional, diante do exposto, nos serve como possibilidade de tecer novas formas de relações interpessoais, pautadas na parceria, no diálogo, no (co)mover, no (a)colher, na liberdade de escolha e no respeito aos diferentes modos de viver, num compromisso ético-político com a vida.

Tatiana Doval Amador, terapeuta ocupacional, professora dos cursos da Saúde da Uniso, mestra em Educação e doutoranda em Terapia Ocupacional pela UFSCar. ([email protected])
Naara Ramos Augusto e Queren Hapuque Oliveira Sousa, estudantes do curso de Terapia Ocupacional da Uniso