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Mundo VUCA e a escola

29 de Agosto de 2020 às 00:01

Catarina Hand

Alguns sociólogos estão denominando o mundo atual de VUCA: volátil, incerto (uncertainty), complexo e ambíguo. Como as escolas podem reagir à tamanha instabilidade visto que, culturalmente, trabalham com previsibilidade e estabilidade?

A atual pandemia forneceu-nos exercícios para tal adequação... escolas, professores e pais precisaram se reinventar, aproximando-se mais do “modo de pensar e agir” da geração dos alunos, que já nasceram em um mundo digital. Precisou-se sair da rotina e do conforto da estabilidade do já conhecido e aventurar-se a um novo conceito de escola: Escola VUCA.

Assim como artistas famosos de televisão, os professores produziram lives e tantas outras ferramentas pedagógicas digitais, que “ao frigir dos ovos” parecem que também nasceram neste mundo e não a eles imigraram. Alguns profissionais em idade já avançadas utilizaram-se, sobretudo, do conhecimento já obtido em linguagens convencionais para continuarem alcançando o mesmo objetivo: qualidade no processo ensino/aprendizagem.

“Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. A lógica determinada por Lavoisier (químico francês, sec. XVIII) pode ser utilizada pela educação: precisamos utilizar tudo o que já foi apreendido até o momento e aplicá-lo de forma inovadora no ensino, criando ferramentas e linguagens que tenham a fluidez necessária à aprendizagem.

Para que isso se concretize, faz-se necessário o empenho dos governantes, na mescla entre bons profissionais da educação e das tecnologias, para que cursos efetivos sejam aplicados aos educadores, colocando-os na posição de aprendentes, em ambientes onde sua complexidade cognitiva digital seja desafiada e novas formas de ensinar sejam paridas.

No mundo VUCA não se precisa mais da escola para ter acesso ao conteúdo. Então, como aproximar os educandos do conhecimento erudito? Como conhecer, suficientemente, os alunos para fazer os links adequados? Como transformar a escola em uma instituição que realmente eduque e não, simplesmente, escolarize?

O mundo dito como moderno e que já estamos superando entregou à escola a obrigatoriedade de toda a culturalização da criança e do adolescente. À escola ficou a responsabilidade de formar o cidadão em toda sua complexidade e integralidade. Mas o que é ser cidadão nos dias de hoje?

Cidadãos são “pessoas”, no sentido filosófico: “uma entidade que tem capacidades e atributos associados à personalidade, em um contexto particular moral, social ou institucional”, por exemplo. Pessoas que comandem as suas vidas, que participem da organização da vida social, das atividades políticas, que tenham princípios éticos, que possam discutir, negociar, se expressar no sentido de promover mudanças... A escola sozinha consegue cumprir com essa função social?

O trabalho definidor da escola é o trabalho docente. Nada poderá ser feito individualmente, o processo exige coletividade. A escola está inserida na sociedade e recebe, por sua vez, a sociedade em seu útero. É dentro de todos os segmentos sociais, portanto, que tem que buscar apoio, formando uma corrente de educadores sociais que fortaleçam os profissionais da educação na escola, ajudando-os a construir sua identidade e compartilhando responsabilidades. Estes profissionais, por sua vez, “lapidarão as novas gerações”, com a função de devolvê-los à sociedade mais capacitados para o desenvolvimento da ciência, tecnologia e, sobretudo, para a vida ética, igualitária e justa de que o mundo tanto carece.

Catarina Hand é mestra em Educação e professora na Uniso ([email protected])