Editorial
Queda no valor da cesta básica é motivo de comemoração
Nos últimos dois anos, todos os indicadores macroeconômicos foram contaminados pela pandemia da Covid-19
As medidas adotadas pelo Governo Federal para conter a inflação começaram a dar resultado. O valor da cesta básica, no mês de junho, em Sorocaba, recuou 2,3%. Dos 34 itens analisados, 20 deles apresentaram queda no preço. Na compra de todos os produtos, o consumidor economizou R$ 25,58. Já é um começo.
O levantamento foi feito pelo Laboratório de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade de Sorocaba (Uniso), que é coordenado pelo professor Renato Vaz Garcia. Ele fez um balanço da trajetória dos preços dos produtos da cesta básica este ano.
“Em 2022, o valor da cesta básica iniciou o ano apresentando queda nos dois primeiros meses e forte alta nos meses seguintes, encerrando junho com queda de 2,30%”, destaca Garcia.
Entre os alimentos que apresentaram as maiores reduções de preço estão o frango (-26,97%), em seguida, a batata (-12,47%). Em terceiro lugar ficou o sal (-9,45%) e depois a cebola (-6.81%). Em quinto lugar, a carne de 2ª (-5,18%). Dentre os produtos que apresentaram as maiores altas em junho estão o litro de leite (7,11%) e o feijão (4,47%).
No caso de leite e de seus derivados, o problema é um pouco mais complexo. Com a valorização do dólar ficou mais difícil importar o produto. Muitos negócios foram cancelados e o mercado interno, por si só, não consegue suprir toda a demanda necessária. Com baixa oferta, o preço sobe.
De olho nesse mercado, o Governo Federal decidiu, em maio, reduzir em mais 10% as alíquotas do imposto de importação sobre 6.195 códigos tarifários da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM). A medida afeta diretamente o setor lácteo, pois abrange bens como leite UHT, creme de leite (nata), iogurte, manteiga e queijos. A única exceção foi a do queijo muçarela, cuja isenção tarifária foi revogada após pressão de entidades do setor lácteo. A redução do imposto de importação para o leite e outros lácteos é temporária e vale até 31 de dezembro de 2023.
O problema é que essa redução não chegou aos consumidores por um motivo simples. Nas últimas semanas, o dólar registrou nova tendência de alta. A moeda americana ficou mais cara por causa do risco crescente de recessão nos Estados Unidos. Essa volatilidade do mercado fez com que a medida adotada no Brasil, de corte de impostos, não surtisse o efeito desejado.
Nos últimos dois anos, todos os indicadores macroeconômicos foram contaminados pelos efeitos deletérios da pandemia da Covid-19. Quando se esperava uma retomada, apareceu a invasão da Ucrânia pela Rússia, o que provocou novo abalo na confiança e na estrutura das cadeias logísticas.
O preço do petróleo disparou, levando junto a cotação das commodities, principalmente as agrícolas. Houve impacto no valor do trigo, do milho, da soja e dos fertilizantes. Todo isso somado fez com que o custo de produção aumentasse. E esse aumento acabou, mais uma vez, no colo do consumidor.
Os agricultores, que se preparam para o cultivo da próxima safra, estão preocupados com o custo da produção. O risco é plantar por um valor muito alto e na hora da venda os preços terem despencado. Esse descompasso pode levar muita gente à ruína. Nesse momento, toda cautela é importante para que não haja um desmonte no setor que mais tem ajudado o Brasil a enfrentar as crises econômicas.
A curto prazo, a situação é bastante delicada. A queda no valor da cesta básica, registrada em junho, deve ser comemorada. Não dá para prever quantas vezes mais, este ano, ela se repetirá. Mas essa é a chave para conter a inflação. Cabe ao consumidor contribuir com pesquisa de preço, escolhendo alimentos da época (normalmente mais baratos) e adquirindo somente o necessário. Com essas medidas vamos colaborar com o esforço do governo em reduzir a alta do custo de vida, o que vai beneficiar todos nós.